O presidente do Sindicato Rural de Toledo, Nelson Gafuri, e diretores da entidade acompanharam a cerimônia em que foram assinados protocolos de intenções e de compromissos entre a Cooperativa de Energias Sustentáveis e Saneamento Rural de Toledo (Ambicoop) e a Cooperativa de Energias Renováveis e Saneamento Rural de Nova Santa Rosa (Coppersan), com a Sociedade Alemã para Cooperação Internacional (GIZ) Ltda e com a MELE Biogás GmbH. Os documentos foram assinados durante o Seminário “Agenda para o Desenvolvimento Regional Sustentável”, em que foi apresentado o Programa “Oeste Sustentável”, organizado pelas cooperativas, e que contou com a presença do vice-governador do Paraná, Darci Piana. Ele esteve acompanhado de secretários de Estado, dentre eles, Norberto Ortigara (Agricultura) e Valdemar Bernardo Jorge (Desenvolvimento Sustentável).
Gafuri avalia que este é um importante momento para o setor do agronegócio que produz proteína animal, especialmente quando são propostas novas possibilidades para dinamizar o aproveitamento dos resíduos da pecuária transformando-os em energia. Há anos o produtor aguarda sistemas de produção que apresentem viabilidade técnica e econômica, e por isso eles apostam nas pesquisas e parcerias que ofereçam tais soluções. Mas também há consciência de que a sustentabilidade da produção depende de parcerias sólidas e comprometimento com as decisões.
Ilmo Werle Welter, presidente da Ambicoop, explica que o projeto começou pela demanda por produção de suínos. Mas, para ocorrer essa expansão, é necessário compatibilizar aumento de produção com o componente da sustentabilidade ambiental. Assim foi realizada uma visita à Alemanha para conhecer a aplicação da tecnologia lá desenvolvida e analisar as possibilidade de replicar em Toledo.
Pensando na adesão dos suinocultores ao projeto, Ilmo disse que o modelo cooperativista foi escolhido, visando dar mais transparência das decisões aos envolvidos. Num primeiro momento, participam 48 produtores com áreas próximas da sede do projeto, na Linha Rocio, com granjas que podem gerar 900 mil litros de dejetos por dia.
O dejeto produzido na granja deverá percorrer cerca de oito quilômetros até chegar na usina piloto da cooperativa. Será por tubulação, aproveitando desnível, mas também por meio de bombeamento. “Isso porque cerca de 85 a 90% são de líquidos e desde que seja feita a separação nas propriedades ele pode ser por tubulação. Essa experiência já existe, mas depende dessa separação dos resíduos sólidos”, salienta. A preocupação é que há sólidos que fazem a aderência à tubulação. O que não for canalizado, será transportado por caminhão.
Chegando no biodigestor, todo o material passa pelo processo de transformação para gerar o gás. “Após a biodigestão novamente haverá a separação de sólido e líquido. A água será tratada e usada para bio-irrigação. Já a parte sólida vai se transformar em adubo orgânico, um ativo que vai nos auxiliar no pagamento de todo o investimento”, avalia Ilmo. Ele acrescenta que desta maneira novos investidores poderão agregar ao projeto. “Somos uma cooperativa que está começando a história. Se pensarmos um pouco no que é o tamanho do projeto, acredito que precisamos dessa participação”, complementa.
O projeto olha mais adiante e por isso tem a expectativa de avançar na legislação que venha tornar possível o transporte do gás por tubulação, hoje restrito a uma companhia apenas. Outra vertente do projeto é a produção de derivados verdes à base de hidrogênio (SynCrude) de resíduos biogênicos (como fonte de C) e da eletrólise com energias renováveis (como fonte de H2), o que justifica a parceria com os empresários e governo alemão. “Essa parceria com empresas fará um bem danado para nossa produção a partir do ponto de vista externo. Tendo parceiro com tecnologia e parceiros na compra do hidrogênio verde é apostar no sucesso. Obviamente, com cabeça no lugar, pé no chão, pensando em projetos críveis e nada forçado. Para isso, o Estado está disposto a mexer nas suas políticas de apoio, incentivo e viabilização, seja na forma de crédito mais barato ou na forma de editais de compra, como já temos de biometano que as empresas podem ofertar, ou ainda adequando a legislação ambiental naquilo que pudermos”, afirmou o secretário de Agricultura e do Abastecimento, Norberto Ortigara.
O biogás tem muito espaço para investimento, visando ser sustentável para a propriedade rural. Com a depuração, pode produzir o biometano, mas num nível ainda mais alto pode se pensar na produção de hidrogênio verde que é a chamada energia do futuro.
EXPERIÊNCIA
Apenas com o intuito de compartilhar uma experiência, Valdir Rossetto, produtor rural e membro da diretoria do Sindicato Rural de Toledo, conta como é o projeto próprio implantado desde 2019 para o atendimento das necessidades da propriedade que mantém granja com 4 mil suínos. “O projeto é de 75 kVA, chave 200, e o motor 4 cilindros a gás da MWM que toca o gerador transformando o gás do biodigestor em energia elétrica. É um projeto simples, viável e lucrativo. No meu caso, ainda tem o composto que vai para a produção de feno”, comenta. Automaticamente o sistema fornece a energia para a granja e o excedente é vendido para uma rede de farmácias em Curitiba. “No começo, tivemos vários desafios no processo, o que exigiu aprender ainda mais sobre manejo dos suínos, utilização de desinfetantes e até de antibióticos nos animais. O controle deve ser muito rigoroso para não interferir no biodigestor”, acrescenta.