A adoção de novas práticas para o desenvolvimento das diferentes cadeias produtivas do agronegócio é um caminho sem volta. Isso ficou muito claro com a realização do Encontro Paranaense de Agricultura Sustentável, encerrado nesta quinta-feira (9/06), evento organizado pela Associação dos Engenheiros Agrônomos de Toledo. Estudiosos e pesquisadores trouxeram os mais recentes trabalhos sobre manejo de solo, plantas daninhas, bioinsumos e remineralizadores, entre outros temas, que envolveram profissionais do setor, produtores rurais e universitários no debate sobre a agricultura sustentável.
O agrônomo Cleverson Andreoli provocou importantes reflexões durante a exposição do tema “Sustentabilidade do Agronegócio”. Ele salientou que a sustentabilidade não é um patamar que se atinge, mas um processo em que cada dia é preciso adotar uma nova prática para o aprimoramento das atividades no campo.
A partir de dados compilados do Departamento de Economia Rural (Deral), o palestrante disse que o Paraná, no período de 1993-2004, aumentou a área de cultivo em 21% e a produção duplicou. No mesmo período, o custo de produção do milho cresceu 158% e o da soja aumentou 98%. Entretanto, a rentabilidade do milho diminuiu 17% e a soja teve queda de 36%. “Estamos produzindo mais, no entanto à custa de um enorme investimento em insumos, o que está fazendo com que o agricultor produza mais e ganhe menos. Essa diferença entre produção, custo de produção e produtividade chama-se sustentabilidade, pois hoje estamos pegando o adubo, colocando-o no solo e jogando fora”, alertou.
A reversão desse quadro se dará no melhor aproveitamento de tecnologia, formação e análise de dados (big data), biotecnologias, entre outros elementos que compõem aquilo que se chama hoje de “Agricultura 4.0”. Andreoli defendeu que pequenos e médios produtores tenham condições de acesso a esses recursos tecnológicos.
O vice-presidente do Sindicato Rural de Toledo, Edenilson Coppini, cumprimentou a direção da Associação dos Engenheiros Agrônomos (AEA/Toledo) pelo Encontro Paranaense de Agricultura Sustentável, salientando a participação do produtor rural nesse processo. “Somente em 2021, treinamos mais de 800 pessoas, com participação de técnicos ligados às cadeias produtivas do agronegócio. O Sindicato está de portas abertas ao setor agronômico para contribuir a uma melhor sustentabilidade da nossa região”, disse.
Na palestra sobre “Manejo sustentável do solo”, a engenheira agrônoma Dra. Carolina Riviera Duarte Maluche Baretta, da Universidade Comunitária da Região de Chapecó (Unochapecó), sublinhou que, nos últimos anos, a parte biológica ganhou bastante destaque, principalmente do ponto de vista comercial. No entanto, essa questão vai muito além de um modismo agrícola, sendo um fator extremamente importante para a sustentabilidade dos sistemas. “O produtor pode ter certeza que esse assunto não é um modismo, mas trata-se de uma necessidade e só melhoramos a qualidade do solo através do manejo”, afirmou.
O primeiro passo é mudar algumas práticas de manejo que prejudicam a atividade biológica no solo. Uma dessas práticas a serem evitadas é excesso de revolvimento do solo. Outros fatores interferem como a baixa diversidade de plantas, ausência de calagens e utilização excessiva de fertilizantes solúveis. “Sistemas muito convencionais que envolvem aeração e gradagem, oxidam o principal alimento da microbiota do solo e dos organismos vivos de uma maneira geral que é a matéria orgânica. Consequentemente afetam os fatores que determinam vida no solo que é disponibilidade de água, oxigênio e flutuações intensas de temperatura, e isso vai afetar os serviços ecossistêmicos”, disse.
Conforme a pesquisadora, existem manejos mais favoráveis à conservação da qualidade biológica, pois o solo é o principal patrimônio que uma propriedade rural dispõe. “E temos que olhá-lo como organismo vivo, pois vários estudos já apontam que a qualidade biológica do solo é um dos fatores determinantes da produtividade”, salientou.