Em busca de soluções, produtores elaboram documento para superar crise na pecuária leiteira
 
publicado em: 27/09/2023
 

“Necessitamos evoluir, sair dessa inércia, alterando modelos que nos trouxeram até aqui”. Com esse chamado, produtores de leite lotaram o Auditório e Plenário Edílio Ferreira da Câmara de Vereadores de Toledo nesta terça-feira (26), para alertar as autoridades e buscar apoio político na busca de soluções imediatas para a crise que passa a cadeia produtiva. Durante a 15ª Reunião Ordinária da Comissão de Desenvolvimento Sustentável do legislativo toledano, a Associação de Produtores de Leite de Toledo e região (Aproltol) argumentou que o principal problema enfrentado no momento é o excessivo volume de importações dos produtos lácteos de países do Mercosul, notadamente Argentina e Uruguai. “Se conseguirmos bloquear a importação, boa parte dos problemas serão sanados”, salienta Saul Zeuckner, presidente da associação.

A reunião da CDS contou com a presença de pecuaristas da região. Irineu Rauber, produtor rural de Quatro Pontes, falou sobre a crise instalada no setor leiteiro. Ele tem 32 vacas em lactação, com média de 700 litros/dia. “O que estamos enfrentando hoje com a atividade é desanimador. Quanto tempo ainda vamos sofrer com tudo isso? Nosso custo de produção está muito alto e o valor recebido está abaixo desse custo. Os laticínios estão pagando menos que a referência do Conseleite que é de R$ 2,29. É um valor fictício. Os laticínios alegam que também não estão fechando seus custos, então quem está ganhando essa diferença?”, questiona o produtor que atualmente entrega toda a produção e que não pensa em industrialização própria.

“O preço do leite reduziu mais de R$ 1,00 o litro e o custo não acompanhou. Sofre o produtor de leite, mas consequentemente todos os demais elos da cadeia produtiva são impactados, e estou falando desde o transportador às revendas de maquinários. O produtor vai começar a contrair muita dívida e para voltar não ao normal não é de um dia para o outro. E o problema é porque está vindo muito leite importado”, considera Alexandre Kant, médico veterinário especialista em gado leiteiro.

“Tudo o que está acontecendo precisa de uma atenção urgente das autoridades. Mas essa urgência é em atitudes práticas, não discursos. Tem que resolver agora ou o produtor deixará a produção de leite e será irreversível para muitos retomarem no futuro”, posiciona o presidente do Sindicato Rural de Toledo, Nelson Gafuri, que participou da reunião da CDS em que foram apresentadas as reivindicações.

Ao final da apresentação dos problemas que levam a essa crise na pecuária leiteira, feita na Comissão do legislativo municipal, os participantes reivindicaram que as importações do Mercosul retomem o que havia até 2014, com compras de no máximo até 3% da produção nacional e em cotas mensais. Pedem ainda a fiscalização e rastreabilidade dos lácteos importados, equiparação da qualidade com as mesmas exigências sanitárias do leite brasileiro e fiscalização no Mercosul quanto à possibilidade de triangulação de produtos lácteos.

O documento da Aproltol solicita ainda a desoneração fiscal sobre insumos, máquinas e equipamentos, animais e recursos humanos, entre outros. “Essa carga tributária que temos sobre a produção, dificuldade a competição com países vizinhos e além do mais do setor leiteiro carece de uma legislação própria para a atividade”, considera Zeuckner. Os produtores reivindicam financiamentos de longo prazo com juros baixos para investimentos.

No documento assinado, os produtores pedem contratos de compra e venda com formalização de preços. “As indústrias não aceitam fazer contratos de compra e venda para formalizar o negócio. Precisamos de contratos com todos os produtores de leite, amparados pela lei”, aponta o documento reivindicatório, bem como a Nota Fiscal diária para que seja um comprovante jurídico de relação com a indústria.

Após a entrega do produto para a indústria, os produtores entendem que o pagamento deve ser efetivado no máximo até o 5º dia útil do mês. Uma legislação específica para o setor poderia, neste sentido, contribuir para organizar a produção e todos os elos da cadeia produtiva. “Não faz sentido esses prazos de pagamentos existentes atualmente se todas as empresas fecham seus balanços até o 5º dia útil do mês”, justifica o documento que é encaminhado ao Congresso Nacional, Governo Federal e demais instâncias.

Soma-se a isso, conforme as reivindicações dos produtores, a necessidade de um indexador que reflita a realidade dos custos de produção de leite em seus diferentes sistemas, para que seja instrumento legal de negociação. No entendimento dos produtores, há necessidade de campanhas de marketing, visando aumento de consumo do leite e derivados nacionais. Em pedido de apoio, as reivindicações também serão encaminhadas à Associação dos Municípios do Oeste do Paraná (Amop).